19 de set. de 2008

...E A VIDA ME CONCEDE!


tela Frida Kalho/by Frida
...meu deus, eu não mereço, não...Jú, você me fez chorar e transbordar em emoção!


Para Adriana Monteiro de Barros

nunca me afoguei nem tentei me afogar em água.
não sei como é e nem nunca senti as narinas sem conseguir respirar
num soltar de bolhas constantes.
não posso dizer que nunca me afoguei.
já me afoguei em (a)dversidades. álcool, dor, choro, sabonete líquido. nicotina, tapas, gritos, pressão.
já me afoguei em lágrimas, músicas tristes e poesia.
me afoguei em ventania e excessos.
mergulhei numa viagem sem rumo e sem volta.
me afoguei em fumaça e em falta. me afoguei em saudade.
em água, não. nunca me afoguei. nunca me afoguei em água.
só em tédio.em perguntas sem resposta. em dúvidas, desespero, medo.
já me afoguei em paixão desenfreada, carro desgovernado, desassossego.
em quartos sem luz, em escuridão, colchões duros, frio.
já me afoguei em nadas.
em tudo não! nunca me afoguei em água.
não que algumas dessas vezes eu desejasse me afogar. nunca me afoguei querendo. o afogamento simplesmente aconteceu todas as vezes.
o afogar-se é imprevisível...
já me afoguei em telefonemas, em cartas mal escritas, em palavras não pronunciadas. em palavras impronunciáveis. em raiva, palavrões.
já me afoguei nos outros e até em mim mesma eu me afoguei.
em água; não! nunca me afoguei.
naquilo que pode ser . no que é e no que foi... já me afoguei.
em planos não executadoss e até no que deu certo; me afoguei.
sou um peixe. dentro da água me comporto bem.
só me afogo fora dela.
já desisti de aprender a nadar na imensidão.

Juliana Hollanda
--

17 de set. de 2008

...PRESENTES QUE A VIDA ME DEU!


arte/Renato Rezende
...e não pude conter-me! Chegou-me este belíssimo texto pelas mãozinhas do meu anjo mais feliz, meu filho Gabriel! São presentes que resolvi compartilhar com vcs! A vida às vezes nos afaga como um cristal! Obrigada meu querido Amigo e Poeta Rod Britto! Que as surpresas da vida te sejam cada vez mais preciosas como foi seu carinho por mim!

"Poeta, Adriana, Poeta (e quis protegê-la assim, si entre si, por mais que ela confirmasse a sua toda desolação do mundo, rindo e cantando, bicando, fazendo bem, como em nenhum truque de espelhos riscado àá chave do coração, ela já é o entre, se entrega, dá as chaves, dá corda, fugas e acolhidas, entre apertos, leitor, entre aí, que parêntese longo... é também recomeço de frase, leia-se um entre não configurado, tese anormal, no caso então saia, ganhe vôo, no auxílio dela, e agora quem é que protege quem, se já voou, danou, está de fora ou de dentro do Coração Poeta, de bela ave de rapina?

É tal contentamento. Não ligai apertos. Mas só o que provoca. Pontas. E como fui provocado, apontando o sentimento. Adriana, Poeta, Adriana, n,Ela, Ela, Poemas, põem, mas de alucinantes rasantes nas gentes; vive farta, vira vida viva, nos convidando para os lances de sermos, poetas sob sua terrível e implacável condição de nos convercer emoções e pactos (ou poderiam ser partos, ou poderiam ser cactos de papel forte (o único rasgado que fica, poeira nas veias), mas pactos antes de tudo e consigo) - humanos, sobre e suburbanos - e dá Ela seu leve concerto de sombra que é o "s" que quis em se distanciar do que pudesse fazer mal, nas horas certas, nas inadequadas, desbancando a humildade. Agora ela surge uma, e é tudo isso descrito, Poeta, e ainda mais em seu primeiro livro, reunião de arrepios e notas, Pianos Invisíveis, de Poemas/ sem mais contorno ou arrependimento\ possíveis, Poemas Visíveis, que também servem a desarmar entre esses entra e sais, são esses, discutivelmente, "inda bem".

Ela que é uma noite forte, noire, convida para os autos com L e viradas, e tomem golpes poéticos, perfurações súbitas e, quando menos, param por ali. Sorte a minha ter me caído em mãos, só um pouco disso, tenho certeza, mas que bateu com todo o peso desse mundo - pra nem parecer exagero, Adriana também sabe da existência de outros mundos, que nem poderia haver manual, poeta, manual. E naõ vou me estender falando mal-coisa de vício e manual. Poeta, condição ruim, muito além dos auxílios do liso corpo e da pesada alma surgidos, provocados em gentes, flamenguismo, nos seres, não possuem proteção, não recebem auxilio desemprego e essas coisas afins.

E como do surgimento dos Pianos Invisíveis, esse crito agora é tudo só porque da nossa insistente & relutante intimidade surgida, meio telemarizada, num oi maior e único até ontem, pulso forte -senão elas aparecem mesmo, as desimportâncias pessoais, num bate-porta e de envelopes, como livros que pousam peso. Descontraído e feliz, nessa, quis refazer-me em cima de você, será que poderei escrever assim? Só que não pude, ainda fiquei muito abaixo nesse vôo, meio desencantado, tirando bafo do espelho, este liso, sem garras arranhadas. Mas contente, e muito por ter te lido.
Um abraço forte no coração, tudo de bom aos seus, a todos os que voam e sucedem, os que torcem, retorcem, subtudo,

Rod Britto.

16 de set. de 2008

TEMPORAL

foto/olhares.com

Tempestades não são boas conselheiras. Em geral, deprimem o retrato.
Melhor esperar a cachoeira cumprir seu destino.
Afinal, a poesia aquece o pensamento sob os lençóis.
As borboletas ainda se debatem contra as vidraças molhadas
e as orquídeas teimam em colorir a paisagem pelas janelas.
Em dias de tempestade, meus olhos chovem.
Choram e chovem todas as lágrimas que agora caem lá fora.
Meus olhos ainda insistem em chorar.

14 de set. de 2008

VÔO CEGO

arte/maysa britto

A cidade é um grito que despenca, ensurdecedor,
até que o vôo entre os humanos seja pura acrobacia
ou o salto entre os mortais, simples aerodinâmica.
Eu ainda sou pássaro à procura de ninho.
Nenhuma mudança me basta,
nenhuma rachadura parte as asas.
Sem memória, esquecemos os dias.
Resta o tempo que esgarça.
Ainda que nasça para alguns,
a mim, só passa...Passa...
A razão de ser está no vôo.

13 de set. de 2008

Anjos também têm asas quebradas

tela/Henri Matisse

De uma janela insulfilm do carro, filmo o garoto. Ele e suas esferas mágicas e rápidas, ensaiam um ballet quase celestial...Elas num vôo rasante de perspectivas cruzam o ar rarefeito que ele respira. Malabarista da vida, entende muito mais dela do que eu. Sabe que os sonhos tem a eternidade dos minutos. Que Deus às vezes é apenas uma miragem e que aquele sinal pode ser o último.

Ainda assim sorri. "Tia tem um trocado aí?" Eu, tímida e com medo do mundo, abro o vidro e dou menos do que me deram. Menos do que sou. E menos poesia, que é feita desse olhar de menino todo dia. Sua vida parece ser esperar e acreditar num sonho cuja bola um dia, ele jogue com os pés.

O sinal abriu. Envergonhada, deixo para trás o menino e suas bolas prateadas, por não caber numa poesia um futuro que fale de risos e menos riscos...Outra vez o menino volta a arremessar suas esferas mágicas que quase tocam o céu. Fecho os olhos e peço que Deus goste de seus malabarismos...






12 de set. de 2008

FRUTO E SEMENTE

Caminho sob pés de maracujá
enquanto o tempo de plantio espera
o pensar infinito sobre a vida
e sua transparente fragilidade.
Aos poucos, toco sentimentos
em busca de aromas líquidos
no silêncio dos sonhos.
Falar já não é preciso,
agora preciso de rosas...

11 de set. de 2008

cactomania

Queria conhecer os segredos de uma planta cacto. Cacto por sí já é uma palavra segredo. Mas os segredos que se encerram em um cacto, são maiores que a junção de cinco letras. É por isto que gosto do ser cacto.
A começar pelo trocadilho cacto-caco. Uma planta cacto jamais será um caco, um caquinho, uma lasca, um estilhaço. O ser-cacto é uma planta árvore. Nem por isto terno ou afável. Cacto espinha, machuca. A planta cacto nem bonita é. Cheiro não tem. Mas eu gosto.

Gosto porque os segredos de um cacto são maiores e minúsculos aos olhos de quem os vê. Cacto é uma espécie rara em extinção. É um ser que não pede, doa e armazena. Em sua sabedoria cactoniana, cacto é uma árvore mãe e floresce.

10 de set. de 2008

ANDAR

foto/olhares.com
Na incerteza da matéria
o fragmento do humano
a insensatez com a vida
na angústia do dia
na loucura da noite.
Vida que vai, que segue, que breve
transcende e transmuta.
Simples ato de respirar
e continuar...

8 de set. de 2008


foto de Clarice Lispector/arquivo


Toda palavra é silêncio.

Toda palavra é alma.

Todo silêncio é palavra.

Toda alma, silêncio.

Apesar das palavras, minha vida nunca foi silêncio.

4 de set. de 2008

O Outro Lado de Dentro

art/mário cravo


Meu avessso é o que há de melhor em mim


o que há de ruim está à mostra.


Mas dentro não é aparente


é vulnerável e inconsistente.


Sou uma história de trás pra frente,


em quase tudo, uma indefinição...


Uma cópia bem disfarçada e cheia de vãos.


Um fino hiato entre razão e emoção.


2 de set. de 2008


foto/sebastião salgado

"Pretendo que a poesia tenha a virtude de, em meio ao sofrimento e o desamparo, acender uma luz qualquer, uma luz que não nos é dada, que não desce dos céus, mas que nasce das mãos e do espírito dos homens." Ferreira Gullar