27 de out. de 2011

Das Coisas que Amo


Arte/Beatriz Milhazes

Outro presente. Dessa vez do poeta, cantor e músico, Paulo Beto Meireles. Beijo grande meu amigo.

Poeme-se!
Dizia a colina pintada diante
dos olhos
dos dedos
da falta.
Da fala pungente e precária
que nos deu no próximo
o fruto primeiro.

Poeme-se!
Sugando o roteiro invisível
perante o suspiro e o novo.
Foi o silêncio da imagem
que me trouxe
o que calo.
Pois é assim que lhe ouço.

Pois é assim que dou vida
a este poema
abortando-a.
Abortando seu significado enquanto
desejo e mistério.

Removendo seu inacabado consolo.
Aposto nos montes barrocos
nos barros de matéria-prima humana.
Nos corpos com massas leigas, ascéticas
Poematizadas por estarem
para todo sempre.
Entre!

Pois há na vida a culpa
Adrianisticamente plena
por retrcer-se diante do novo.

É assim que lhe conheço
sem ter que.
Tendo, por isso, um prazer sem endereço
regado a amizade infalível do silêncio.

Guardo-me em palavras e saio pelos fundos
não há mais o que se dizer
o sentido é surdo.

Poeme-se!

26 de out. de 2011


arte/Beatriz Milhazes

Faz tempo não entro aqui. Faz tempo não escrevo. Ando me procurando por aí. Esta é uma tentativa de me encontrar novamente. Enquanto metade, me vejo inteira em poemas- presentes, de grandes amigos e maravilhosos poetas.

ALMA POETA

Pedro Lage
poema publicado no seu último livro, "Dicionário de Estrelas",
pela editora Ibis Libris, e lançado na Laura Alvim, em 10/10/2011

Um poema de última hora.
Um poeta sempre é preciso.
Mesmo vago-simpático, solto
no escarcéu deste mundo-improviso,
ou rugindo por dentro e por fora
das tramas-trevas do dia.
São últimas todas as horas- e o poeta,
em seu apuro, se encarrega do pior:
ordenar este samba no escuro.

Passam rebentos de núpcias sagradas,
passam hip-hops do brejo:
Os olhos se abrem ao cortejo.
Uma adaga voadora vem recortando um piano
que ninguém vê, reino de teclas mais sensíveis
que teus olhos de atleta da luz.
Por um triz,
a lua é cheia e o melodrama não existe, nem o fado!
Mas,o dia ali demanda a cor deteus olhos tristes,
minha longilínea mana,
e tudo o que sou a teu lado é duplamente feliz!
Mesmo que a gente roa os bicos da lua,
que se despoja entre as sombras,
eos desejos então se desmontem,
um a um,
dos mais sórdidos aos mais puros,
até que apenas um verso ressoe
-um artefato no ar- que restaure de fato,
a luz de teus olhos no ato de amar.