27 de dez. de 2008

HÀ POEMAS EM MIM...



Meu ser não têm portas nem janelas,
mas fendas e um mundo de significados
e significantes que dignificam quem sou.
No coração há um verso,
em cada poema, um oceano que chora,
e anestesia meus desejos em anseios.
Meu coração tem a intensidade que a vida ofereceu.

26 de dez. de 2008

INCERTEZAS


ARTE/ MÁRIO CRAVO

Sigo indefinida.
Silenciosa, desfilo versos
na cadência das manhãs.
Por vezes enlouquecida,
preciso despir-me de pensamento
e fazer voar desejos em volta de mim.

19 de dez. de 2008

DAS MARGENS



tela/Picasso

Meu poema nao é feito da água dos rios,

mas das lágrimas que as águas dos rios não levam.

Tenho um poema de urgências que me reinventa

à cada margem da vida.

Tudo em mim é líquido.

Meu poema é líquido.

Meus oceanos vazam enquanto nado em desertos.

Suo e sou a liquidez das manhãs

transbordando incêndios em silêncios.

Em mim, celebro um poema.

Dentro de mim, líquido, mora um poema.

11 de dez. de 2008

Um momento de alegria: Karla Sabá, Denizis Trindade e eu


foto/Julio Pereira

DEFLAGRAR POEMAS NO AR
É TUDO
OU PARTE DO TODO
QUE AINDA NÃO VI.

8 de dez. de 2008

ANJOS TÊM ASAS QUEBRADAS


FOTO LUCIANA DAU

Meia-noite e os gatos miam ininterruptamente.
Meia-noite e eu desperta,
som ligado,
livro aberto,
tudo sempre incerto.
Meia-noite eu cheia.
Noite e meia e eu aqui.
Eu minguante.

2 de dez. de 2008

Primavera dos Livros



UMA FESTA PARA OS OLHOS E A BOA LEITURA!

1 de dez. de 2008

AFETO


tela/Pablo Picasso

Para Meus filhos, Juliana e Gabriel
e Thereza Christina Roque da Motta


Meu corpo é feito de afetos.
É feito de tudo que tem existência,
de tudo que gera uma vida.
Em meu corpo, duas sementes germinaram,
dois presentes, duas bençãos,
dois poemas que jamais sonhei.
Meu corpo é pleno, cheio.
Tudo nele significa.
É um corpo repleto de aberturas e limites.
Um corpo que se ajusta
e se encaixa com os anos
em pés que aprenderam a dançar sem chão
e mãos que tocam notas invisíveis num piano invisível.
Nesses dias, anoiteço mais cedo.
Deixo o vento do outono soprar sobre meu rosto
e a lua da manhã me recobrir de estrelas.
Nesses dias anoiteço dentro de pianos invisíveis.

adriana monteiro de barros

26 de nov. de 2008

ILHA



tela/MODIGLIANE

Hoje sentada na cama do meu quarto,
viajo semanas em segundos,
me embalo nos minutos que se eternizam
e transmutam realidades em breves delírios.
Tenho flashes do que deixei lá fora
nas memórias que dormem comigo agora.
Acalanto pela dor da alma os limites do corpo.
Nesse instante, meu mundo é uma divisa,
uma tênue e imensa linha
de quartos
e quatro paredes de dor.

by adriana monteiro de barros

23 de nov. de 2008


Tela/Monet

Que pena que eu tenha perdido a ilusão de me entregar com receio de me perder.Que pena que eu tenha colocado essas máscaras e amarras em mim. No fundo sei que ficam guardados em segredo os desejos e as paixões que nunca tiveram fim.

by adriana monteiro de barros

17 de nov. de 2008


tela/ MONET

Te amo e amo ainda mais o amor que sinto. Por que é dele o mérito de transgredir todos os sentidos. É dele a leveza de transcender seus segredos e conceitos.Seus mistérios e monossílabos.

Vem dele e não de mim a pureza de um amor sem formato, de um amor inventado e recriado. De um amor até indesejado.

Mas eu te amo e amo minha audácia em te querer. Amo o que há de velho e novo em amar. Amo esta consciência bordada de sonhos...

E te amo tanto, que nem sei se te amo direito, porque exatamente assim, nos tornamos perfeitamente imperfeitos e terrivelmente inconstantes ao tempo que nos resta pela frente.

***

...um dia eu saberei como agradecer à todos vocês, meus queridos! Obrigada pelo carinho de sempre e uma boa semana! Beijos no coração de cada um.

12 de nov. de 2008


foto/google

Ontem foi a comemoração do aniversário de três anos, do Corujão da Poesia, um movimento que costumo frequentar e gosto muito. É lá que encontro meus amigos de poesia e vida. E ontem foi uma dessas noites raras. Além de corações transbordando sentimentos, ainda tenho a felicidade de poder abraçar meu amigo e poeta, Marcelo Mourão, que esta semana me homenageia com alguns poemas no incrível mundo do Orkut. Quem puder dar uma passada de olhos pelo meu scrapbook ou no dele , encontrará alguns presentes não só meus mas, de vários outros queridos e competentes poetas. Quero aproveitar e dizer muito obrigada aqui. É um privilégio ser presenteada por uma pessoa tão especial como vc, Mourão.
Depois foi uma sucessão de encontros queridos...Juju Hollanda, Bettina kopp, Beatriz Provasi, Cairo e Denizis Trindade,Mano Melo, Glad Azevedo, Pedro Lago, Igor Cotrim, Bayard Toneli... não dá vou esquecer de todos os que amo! Me perdoem! No final da madrugada ainda tenho o prazer de ganhar um poema tão extraordinário que o Pedro Lago acabou dedicando a mim, que as estrelas caíam na calçada da Ataulfo de Paiva, junto com as minhas lágrimas. Então prometi a ele que iria postá-lo no blog, como faço com os presentes que a vida me concede. Um beijo no seu coração, Pedro e meu carinho sempre.

Intimidades

A que horas veio gritar o prazer,

nos cantos úmidos da cama?

A que horas?

Lençóis dispersos unindo corpos quentes,

excitações ofegantes em plalavras ditas,

à face da epiderme, inspirando por entre os dentes,

que balbuciam salivas escorrendo pelo sal do som animal,

das faces unidas e tudo que geme na escuridão complacente.

10 de nov. de 2008

MAPA MUNDI

Abro as pernas assim...como quem abraça o universo.
Engulo rua boca. Tua lingua, como quem não precisa da palavra.
Invado teu sexo como quem não tem nexo.
E te enrosco em mim como se viver fosse essa dança em eterna mudança.
Deslizo a mão em teu corpo como quem toca um cetim.
Me lambuzo do teu gosto e daquele cheiro que quando a gente sente, já entranhou no ventre.
Me estranha esse fogo que sinto perto do teu rosto. Daqueles que só se percebe quando já queimou.
Então me morde o pescoço. Me invade até osso. Descubra meus lagos com teus lábios.
Depois me abasteça desse desejo que dendro de ti, simplesmente, me enlouquece.

6 de nov. de 2008

MEU PEDESTAL.


tela/C.Portinari

Queria não precisar ouvir os ecos do passasdo

não encontrar meus mortos pela casa

nem cruzar com eles entre bares e esquinas.

Mas é irremediávelmente incontrolável,

o insano desvario a que me entrego sem remorsos

e sem cartas de alforria,

no jogo de intimidades com a poesia.

4 de nov. de 2008

NASCIMENTO.



Eram nove horas da noite e um céu de novembro.
Era véspera do Dia dos Mortos.
Era primavera, mas chovia.
Nasci a fórceps, mas nasci.
Eu nasci no Dia de Todos os Santos.
Era dia primeiro de novembro
quando eu nasci.

27 de out. de 2008

A DOR DAS COISAS.


foto/google

Silêncio não é para os que falam baixo. Mas para os que sabem berrar baixinho.

Minha dor berra. É dor de alma,funda, dor de não ver.

Dor que não qualifica. Interrompe o ciclo. Muda o curso do corpo e da rima.

Minha dor é ser paciente comigo. Ser uma metáfora viva do que se cria.

Toda dor é humana. Desumano é o homem que ela abriga.

Toda dor se sabe só.

Chora só e sem verbo. Só e sem nome.

Quando falo em dor, falo meu tudo. Minha casa. Minhas coisas.

Sem ela não sou. Mesmo que continue sendo. mesmo que seja pra sempre.

A vida é um instante.

24 de out. de 2008

Um presente? Não uma grata satisfação e recíproca admiração.

Olá, Adriana,

Como está?


Desculpe demorar tanto para mandar um e-mail sobre seu livro. Estou numa corrida bastante grande até o final desse ano, tenho deixado algumas coisas de lado, mas, mesmo assim, o tempo é curto.

Posso te dizer que foi uma surpresa imensamente boa perceber quantos ótimos poemas restam em teu livro sóbrio e disciplinado. Acho este - o caminho que você toma nos poemas - o caminho a se seguir: calma, silêncio, dor.

Um poema não nos responde coisa alguma; do contrário, cria-nos problemas, ensina-nos a sentir o que não sentimos mas que o poema sente em nós; ensina-nos a ouvir de novo, a andar de novo; a viver de novo. É claro. E é um risco.

Acho ótimo que esse livro destoe da maioria da produção contemporânea, mesmo dos que escrevem sobre teus poemas, te apresentando ou introduzindo aos leitores, dos teus amigos etc. As pessoas estão com os espíritos, os corpos, as cabeças - ou seja lá o que for - muito agitadas, muito preocupadas com um fazer-se gostar facilmente e tudo.

Enfim, não vou me alongar nem escrever detidamente sobre cada poema. Digo, somente, que o livro me causou um grande impacto e que ele é, de fato, muito forte. Apresentarei teus poemas a um poeta e amigo de São Paulo que com certeza gostará da tua produção.

Caso tenha poemas novos, mande-me uma seleta.

Beijos,

Ponce.





--
Thiago Ponce de Moraes

www.thiagoponce.blogspot.com

23 de out. de 2008

ATRÁS DO SOL AMARELO.



Cachoeiras são estrelas que esqueci de contar

ondas de espumas que não desenhei no papel

e que explodem sonoras antes que o sol

se apague e o dia amanheça tarde.

paralelas do mesmo traço, meu enlaço amarelo.

árvore que se enraíza nas limitações do que se é.

ontem senti que preciso ter compaixão por mim

um limite entre a alegria e sua vulnerabilidade.

ambos sentimentos da mesma dor.

vida são sonoridades e palavras.

ouvir mais do que dizer.

vida é dor que se carrega e se entrega.

A.M.B.

22 de out. de 2008

MAREANDO


foto/olhares.com

Muito me perdi no mar.
Mesmo o mar é mais previsível e contínuo do que eu.
Eu não.
Eu transbordo e navego.
Eu me transformo.
Viro enchente e transbordo de desejos pelo mar.
Eu me transformo em enchente de desejos pelo mar.
Eu me afogo e respiro desejos pelo mar.
Mas até o mar é mais previsível e contínuo do que eu.
Eu não.
Nunca represo.
Nunca usina.
Eu navego.
Só represo o que não for movimento.
O que não for movimento....

A.M.B.

17 de out. de 2008

TIRO AO ALVO.


artworks/images

Cai a janela
abre o pano
atiram flechas
sou o alvo.
Sou a flecha fincada no buraco negro do alvo
sou flecha fincada no peito
sou flecha fincada e mirada no buraco do peito.
Sou flecha. Sou alvo.
Atirem! Atirem, covardes!
Não irei reagir.
Perdi a coragem arqueada do suicídio.
que ele vá pra longe
que ele seja o alvo de outras flechas fincadas no meu corpo.
Sou flecha andarilha.
Sou flecha que atinge o ápice do alfabeto.
Sou linguagem pura e sem dialética
sou palavra tingida
sou arco de palavras, não de flechas.
Mas me disfarço em lingua afiada
e me retiro quando não há mais palavra...

13 de out. de 2008

MEU PÉ DIREITO.


imagem/google

As vozes que escuto são frias, como frio é o sangue que desliza pelos poros.
Há dias conto os dedos do pé entre devaneios de coca-cola e algum prazer.
Vivo a me quebrar,
Quebro as pernas, a cara, o coração...
Mas cara não se enfaixa,se expõe a cicatriz.
Mansa e calmamente definho na veia e nos veios dos descaminhos.
A monotonia dos dias chega de lento
como coisas que ainda planejo fazer.
E quando a noite me sobrevoa driblando tantas dores e outros gritos,
com ela vomito cicatrizes
e alguns cacos de vidro.

9 de out. de 2008

CAIXA DE PANDÔRA.

foto/arquivo da autotra

HOJE À NOITE QUERO TE DEVOLVER EXAUSTO,
EXAURIDO DE TANTO PRAZER...
VOU DEIXA-LO COM A CERTEZA DE NOITES BEM DORMIDAS.
E À TARDE QUANDO TE ENCONTRARES CASUALMENTE,
SEM RUMO...
TRÔPEGO DE SATISFAÇÃO,
VOU FINJIR QUE NAÕ TE CONHEÇO.
MAS O FALO,...AH O FALO.... ESSE QUERO MACHUCADO,
INCHADO DE CANSAÇO E SATISFAÇÃO.
HOJE À NOITE PROMETO TE DEVOLVER FELIZ.
BOM RETORNO AO LAR,
MEU AMOR!

7 de out. de 2008

APRENDENDO A MORRER.

tela/Salvaor Dali


Morrer não deve ser difícil.
Difícil é saber que não somos deuses.
Somos uma incompletude.
Talvez minhas lágrimas e palavras sejam lavadas
e diluídas com as coisas desse mundo.
Morrer não. Morrer não deve ser tão difícil.
Aprendo um pouco a cada dia.
Calo com o tempo,
e viro borboleta.
Difícil é o imponderável.
Morrer, não.
Morrer abrevia instantes.

6 de out. de 2008

É CHEGADA A HORA

foto/getty images

Já faz um tempo..., coloca uns quase 20 anos na conta, mas lembro como se fosse hoje das inúmeras reuniões que frequentava junto ao sindicato e aos grupos de teatro mais engajados, pleiteando e exigindo os direitos que julgávamos ser pertinentes ao ator/artista em espetáculos de diversão.

Pois é... hoje me pergunto aonde estão e como são os nossos direitos enquanto escritores que somos- e aqui não vai nenhum pré-julgamento de qualidade poética-, deixemos claro! Muito já se falou e discutiu em mesas de bares, churrascarias, cafés de livrarias mas, até agora....nada ou quase nada se fêz.

Por quê então precisamos aprender a roda se a roda já foi inventada? Por exemplo, quem é artista e contribui com o sindicato e associações tem vantagens como descontos, bilhetes gratuítos, e até mesmo direito a casa de repouso na velhice....quem é amigo de amigo então.... nem se fala. Agora uma coisa que nunca vi em lugar algum, seja na classe artística ou não, é o convidado, pagar pra se apresentar!

Mas isto ainda acontece no meio intelectual....logo no intelectual! É humilhante e escorchante! Fernanda Montenegro, Marília Pêra, não começaram como divas de teatros no Leblon ou no Shopping da Gávea, mas pra nós não sobra nem um mafuá na Lapa ou no Lido! Ah, faça-me o favor! Bém, pra mim chega, tenho absoluta convicção que juntos podemos mudar muita coisa e só não o fazemos por pura preguiça, desorganização, falta de iniciativa e babaquice! Tudo quase exposto, paro por aqui, vamos pensar, refletir sobre algo concreto. Até breve

3 de out. de 2008

Regresso


tela/Joan Miró
Para Bruno Cattoni


Há, na vida, algo que não se se decompõe com o tempo,
e transpõe a matéria.
Há, no amor, um acontecimento sublime que
ultapassa o encontro.
Há, no sonho, um fio de realidade que vai além de uma canção
e seu destino.
Há no homem, a idade plena da esperança,
o gozo supremo de amadurecer como frutos de uma
existência.
Haverá sempre o eterno juízo, o eterno retorno ao espírito
e ao que ele significa.

2 de out. de 2008

PEQUENO ENSAIO SOBRE A VIDA.


tela/Joan Miró

São três horas da manhã e estou com insônia novamente....Me vem uma avalanche de pensamentos à cabeça, igualzinha a chuva que cai lá fora há dias. Estou na verdade lutando pela VIDA. À minha maneira, de todas as maneiras....Mas é luta! E prefriro nessas horas manter o silêncio imponderável! Preciso me preencher de silêncios...Não quero falar. Não tenho vontade de falar. A linguagem inúmeras vezes destrói o caminho.

O que me espanta é esse seu ar de espanto! Mas não pense que que é egoísmo meu. Não mesmo! É a minha maneira de não estar sózinha, se isto faz algum sentido...Eu sou uma daquelas pessoas que se curam com o próprio veneno. Sinto uma espécie de entorpecimento pela vida e só me liberto quando me rasgo.É doído, mas é assim..

Ao mesmo tempo me assalta o sentimento de desamparo. De substituir este isolamento , este cansaço, pelo bem maior que a vida me deu: a possibilidade de amar os meus incondicionalmente.Mas se fosse fácil eu saberia a receita. Neste exato momento em que todas as lutas parecem vencidas, quando a vida parece ser um beijo, um abraço, eis que me assalta esta sentimento de não pertencimento, de desprendimento, de desnecessidade. Essa desnecessidade para com a vida.

Mas a vida não éuma desnecessidade. Pelo menos a minha não é, na maior parte do tempo. Tenho muitas responsabilidades inerentes, apesar de preferir a solidão. A solidão sim , é necessária, é indispensável! Ela grita ao menor sopro de vida. Por quê vida é palavra. E a minha parece ser escoar!

19 de set. de 2008

...E A VIDA ME CONCEDE!


tela Frida Kalho/by Frida
...meu deus, eu não mereço, não...Jú, você me fez chorar e transbordar em emoção!


Para Adriana Monteiro de Barros

nunca me afoguei nem tentei me afogar em água.
não sei como é e nem nunca senti as narinas sem conseguir respirar
num soltar de bolhas constantes.
não posso dizer que nunca me afoguei.
já me afoguei em (a)dversidades. álcool, dor, choro, sabonete líquido. nicotina, tapas, gritos, pressão.
já me afoguei em lágrimas, músicas tristes e poesia.
me afoguei em ventania e excessos.
mergulhei numa viagem sem rumo e sem volta.
me afoguei em fumaça e em falta. me afoguei em saudade.
em água, não. nunca me afoguei. nunca me afoguei em água.
só em tédio.em perguntas sem resposta. em dúvidas, desespero, medo.
já me afoguei em paixão desenfreada, carro desgovernado, desassossego.
em quartos sem luz, em escuridão, colchões duros, frio.
já me afoguei em nadas.
em tudo não! nunca me afoguei em água.
não que algumas dessas vezes eu desejasse me afogar. nunca me afoguei querendo. o afogamento simplesmente aconteceu todas as vezes.
o afogar-se é imprevisível...
já me afoguei em telefonemas, em cartas mal escritas, em palavras não pronunciadas. em palavras impronunciáveis. em raiva, palavrões.
já me afoguei nos outros e até em mim mesma eu me afoguei.
em água; não! nunca me afoguei.
naquilo que pode ser . no que é e no que foi... já me afoguei.
em planos não executadoss e até no que deu certo; me afoguei.
sou um peixe. dentro da água me comporto bem.
só me afogo fora dela.
já desisti de aprender a nadar na imensidão.

Juliana Hollanda
--

17 de set. de 2008

...PRESENTES QUE A VIDA ME DEU!


arte/Renato Rezende
...e não pude conter-me! Chegou-me este belíssimo texto pelas mãozinhas do meu anjo mais feliz, meu filho Gabriel! São presentes que resolvi compartilhar com vcs! A vida às vezes nos afaga como um cristal! Obrigada meu querido Amigo e Poeta Rod Britto! Que as surpresas da vida te sejam cada vez mais preciosas como foi seu carinho por mim!

"Poeta, Adriana, Poeta (e quis protegê-la assim, si entre si, por mais que ela confirmasse a sua toda desolação do mundo, rindo e cantando, bicando, fazendo bem, como em nenhum truque de espelhos riscado àá chave do coração, ela já é o entre, se entrega, dá as chaves, dá corda, fugas e acolhidas, entre apertos, leitor, entre aí, que parêntese longo... é também recomeço de frase, leia-se um entre não configurado, tese anormal, no caso então saia, ganhe vôo, no auxílio dela, e agora quem é que protege quem, se já voou, danou, está de fora ou de dentro do Coração Poeta, de bela ave de rapina?

É tal contentamento. Não ligai apertos. Mas só o que provoca. Pontas. E como fui provocado, apontando o sentimento. Adriana, Poeta, Adriana, n,Ela, Ela, Poemas, põem, mas de alucinantes rasantes nas gentes; vive farta, vira vida viva, nos convidando para os lances de sermos, poetas sob sua terrível e implacável condição de nos convercer emoções e pactos (ou poderiam ser partos, ou poderiam ser cactos de papel forte (o único rasgado que fica, poeira nas veias), mas pactos antes de tudo e consigo) - humanos, sobre e suburbanos - e dá Ela seu leve concerto de sombra que é o "s" que quis em se distanciar do que pudesse fazer mal, nas horas certas, nas inadequadas, desbancando a humildade. Agora ela surge uma, e é tudo isso descrito, Poeta, e ainda mais em seu primeiro livro, reunião de arrepios e notas, Pianos Invisíveis, de Poemas/ sem mais contorno ou arrependimento\ possíveis, Poemas Visíveis, que também servem a desarmar entre esses entra e sais, são esses, discutivelmente, "inda bem".

Ela que é uma noite forte, noire, convida para os autos com L e viradas, e tomem golpes poéticos, perfurações súbitas e, quando menos, param por ali. Sorte a minha ter me caído em mãos, só um pouco disso, tenho certeza, mas que bateu com todo o peso desse mundo - pra nem parecer exagero, Adriana também sabe da existência de outros mundos, que nem poderia haver manual, poeta, manual. E naõ vou me estender falando mal-coisa de vício e manual. Poeta, condição ruim, muito além dos auxílios do liso corpo e da pesada alma surgidos, provocados em gentes, flamenguismo, nos seres, não possuem proteção, não recebem auxilio desemprego e essas coisas afins.

E como do surgimento dos Pianos Invisíveis, esse crito agora é tudo só porque da nossa insistente & relutante intimidade surgida, meio telemarizada, num oi maior e único até ontem, pulso forte -senão elas aparecem mesmo, as desimportâncias pessoais, num bate-porta e de envelopes, como livros que pousam peso. Descontraído e feliz, nessa, quis refazer-me em cima de você, será que poderei escrever assim? Só que não pude, ainda fiquei muito abaixo nesse vôo, meio desencantado, tirando bafo do espelho, este liso, sem garras arranhadas. Mas contente, e muito por ter te lido.
Um abraço forte no coração, tudo de bom aos seus, a todos os que voam e sucedem, os que torcem, retorcem, subtudo,

Rod Britto.

16 de set. de 2008

TEMPORAL

foto/olhares.com

Tempestades não são boas conselheiras. Em geral, deprimem o retrato.
Melhor esperar a cachoeira cumprir seu destino.
Afinal, a poesia aquece o pensamento sob os lençóis.
As borboletas ainda se debatem contra as vidraças molhadas
e as orquídeas teimam em colorir a paisagem pelas janelas.
Em dias de tempestade, meus olhos chovem.
Choram e chovem todas as lágrimas que agora caem lá fora.
Meus olhos ainda insistem em chorar.

14 de set. de 2008

VÔO CEGO

arte/maysa britto

A cidade é um grito que despenca, ensurdecedor,
até que o vôo entre os humanos seja pura acrobacia
ou o salto entre os mortais, simples aerodinâmica.
Eu ainda sou pássaro à procura de ninho.
Nenhuma mudança me basta,
nenhuma rachadura parte as asas.
Sem memória, esquecemos os dias.
Resta o tempo que esgarça.
Ainda que nasça para alguns,
a mim, só passa...Passa...
A razão de ser está no vôo.

13 de set. de 2008

Anjos também têm asas quebradas

tela/Henri Matisse

De uma janela insulfilm do carro, filmo o garoto. Ele e suas esferas mágicas e rápidas, ensaiam um ballet quase celestial...Elas num vôo rasante de perspectivas cruzam o ar rarefeito que ele respira. Malabarista da vida, entende muito mais dela do que eu. Sabe que os sonhos tem a eternidade dos minutos. Que Deus às vezes é apenas uma miragem e que aquele sinal pode ser o último.

Ainda assim sorri. "Tia tem um trocado aí?" Eu, tímida e com medo do mundo, abro o vidro e dou menos do que me deram. Menos do que sou. E menos poesia, que é feita desse olhar de menino todo dia. Sua vida parece ser esperar e acreditar num sonho cuja bola um dia, ele jogue com os pés.

O sinal abriu. Envergonhada, deixo para trás o menino e suas bolas prateadas, por não caber numa poesia um futuro que fale de risos e menos riscos...Outra vez o menino volta a arremessar suas esferas mágicas que quase tocam o céu. Fecho os olhos e peço que Deus goste de seus malabarismos...






12 de set. de 2008

FRUTO E SEMENTE

Caminho sob pés de maracujá
enquanto o tempo de plantio espera
o pensar infinito sobre a vida
e sua transparente fragilidade.
Aos poucos, toco sentimentos
em busca de aromas líquidos
no silêncio dos sonhos.
Falar já não é preciso,
agora preciso de rosas...

11 de set. de 2008

cactomania

Queria conhecer os segredos de uma planta cacto. Cacto por sí já é uma palavra segredo. Mas os segredos que se encerram em um cacto, são maiores que a junção de cinco letras. É por isto que gosto do ser cacto.
A começar pelo trocadilho cacto-caco. Uma planta cacto jamais será um caco, um caquinho, uma lasca, um estilhaço. O ser-cacto é uma planta árvore. Nem por isto terno ou afável. Cacto espinha, machuca. A planta cacto nem bonita é. Cheiro não tem. Mas eu gosto.

Gosto porque os segredos de um cacto são maiores e minúsculos aos olhos de quem os vê. Cacto é uma espécie rara em extinção. É um ser que não pede, doa e armazena. Em sua sabedoria cactoniana, cacto é uma árvore mãe e floresce.

10 de set. de 2008

ANDAR

foto/olhares.com
Na incerteza da matéria
o fragmento do humano
a insensatez com a vida
na angústia do dia
na loucura da noite.
Vida que vai, que segue, que breve
transcende e transmuta.
Simples ato de respirar
e continuar...

8 de set. de 2008


foto de Clarice Lispector/arquivo


Toda palavra é silêncio.

Toda palavra é alma.

Todo silêncio é palavra.

Toda alma, silêncio.

Apesar das palavras, minha vida nunca foi silêncio.

4 de set. de 2008

O Outro Lado de Dentro

art/mário cravo


Meu avessso é o que há de melhor em mim


o que há de ruim está à mostra.


Mas dentro não é aparente


é vulnerável e inconsistente.


Sou uma história de trás pra frente,


em quase tudo, uma indefinição...


Uma cópia bem disfarçada e cheia de vãos.


Um fino hiato entre razão e emoção.


2 de set. de 2008


foto/sebastião salgado

"Pretendo que a poesia tenha a virtude de, em meio ao sofrimento e o desamparo, acender uma luz qualquer, uma luz que não nos é dada, que não desce dos céus, mas que nasce das mãos e do espírito dos homens." Ferreira Gullar

31 de ago. de 2008

arte/ Tarsila do Amaral- O Irapuru



Por que queria fazer um poema alegre,
feliz de falar.
Mas a vida pede paciência
e enquanto houver vida,
sempre me restará escrever.
Se alegre ou não
haverá poesia.
Escrever, é o que me cabe.



29 de ago. de 2008


Não suporto auto-promoção e quem me conhece sabe bem disso. Mas depois que entrei nessa onda de blog pra cá e pra lá, vá lá que se diga o "what happens"...
Para os que quiserem dar a honra de me assistir ao vivo e poematizando (esse verbo é meu, viu, antenados de plantão!), não percam a oportunidade no dia 12 de setembro lá na Taverna, um barzinho super in em São Gonçalo, às 21:00h.Pra quem não conhece, fica um pouquinho depois de Niterói. Já para os que preferem um lugarzinho mais light, a dica é a FLAP, nos dias 20 e 21 de setembro, na PUC/Rio, a partir das 14:00h. E no dia 28 do mesmo mês, vou estar relançando meus pouquíssimos livros no salão poético da AABB/Rio a partir das 16:30h. Quem comprar leva o CD de brinde, pq os que fiz pro lançamento oficial, se esgotaram! Ah é tão bom falar, esgotou! Esgotou, esgotou, acabou!!!!!!!!
beijos e chuviscos .

28 de ago. de 2008

foto/ sebastião salgado
Retalhando-me crio uma colcha de poemas visuais.

27 de ago. de 2008

sobre algumas coisas a respeito de mim.


Conheço o grande susto, a grande aventura de estar viva e suspensa. Exatamente porque sei que meu alento é fazer da vida o meu roteiro, minha canção, minha única explicação. Há certos dias olho para o mar e procuro uma esperança que me proteja sob o sol, algo que me faça entender o amor, a existência e seus mistérios....Sutilmente deixo-me embriagar por ele e me banho em suas águas deliciosamente eternas, enquanto viva!

24 de ago. de 2008


perdi a coragem do suicídio.


que ele vá pra longe,


que seja o alvo de outras flechas fincadas em meu corpo.


sou flecha andarilha.


sou flecha que atinge o ápice do alfabeto.


sou linguagem pura e sem dialética.


sou alvo da palavra.


sou palavra tingida


lingua afiada,


sou arco de palavras e não de flechas.

23 de ago. de 2008

O menino do dedo duro

Demorou nove anos pra acontecer, mas finalmente ele conseguiu quebrar o dedo indicador. Logo o indica-dor! Até que o estrago foi pequeno... perto do que o Gabriel apronta. É o tipo hiperativo moderno. Só de esportes, pratica três: tênis, taekwoondo e futsal...(bem, esse está em estudo).

O incrível nessa história foi a espécie de intuição que tive dias antes, passeando pela feira de livros que está por por essas bandas . Revirando a pilha de livros, encontrei um que eu li quando era pequena e que hoje só acho em sebos ou pedindo na editora.

Lembram de "Tistu o menino do dedo verde"? Pois é, lí este livro há uns 30 anos...e afirmo que foi uma das minhas primeiras experiências poéticas na literatura. Comprei-o na hora e por um preço super legal.

Uns dois dias depois, numa pelada pós aula, o Gabriel me quebra o dedo. Acidente, azar, premonição de mãe, sei lá, depois eu penso nisso. O fato é que, mesmo com o coração partido, assistindo o médico enfaixar o dedinho do meu filho com um monte de tala , esparadrapos e gases..., agradeci.

"Imagina... daqui há três semanas o garotão vai estar pronto pra outra", me disse ele.

Não, o senhor não entendeu. Não estou lhe agradecendo diretamente, ou estou, não sei , o lado positivo nisso tudo, é que agora meu filho vai ter tempo de sobra pra ler de cabo a rabo o último livro que comprei pra ele, não é Gabriel?

-Hann, hann...

- Ótimo, então estamos combinados, nada de futebol, é literatura na veia!

Loucura? Não, não mesmo, mãe tem sempre explicação pra tudo...!

22 de ago. de 2008


...abro as pernas assim como quem abraça o universo,
engulo tua boca e tua lingua, como quem não precisa da palavra.
Invado teu sexo e te enrosco em mim,
como se viver fosse essa estranha dança em eterna mudança.
Deslizo a mão em teu corpo e me lambuzo do teu gosto.
Desse gosto que quando a gente sente já entranhou no ventre.
Me queima por inteira o fogo que sinto perto do teu rosto,
então, desnude minhas cachoeiras e correntezas com teus lábios
e me abasteça desse desejo
que dentro de ti,
simplesmente, me enlouquece...

20 de ago. de 2008

hoje desconstruí a palavra, descontruí o sentido dela. o que fica é o que não se escreve, nem se fala, cala...é esse estranho choro na face que peço que o tempo se encarregue e carregue pra longe de mim...




19 de ago. de 2008

Formas

arte de renato rezende
tento descrever os instantes que me perseguem,
a vida que me basta,
mas as letras me faltam.
o que sobra é a incerteza,
que me cala.
art/basquiat

desnecessidade é quando podemos fechar os olhos e ver o que não há...

18 de ago. de 2008

art/paul klee
atrás do coração, mais atrás ainda, existe uma dor que não consigo traduzir.

14 de ago. de 2008

art/tápies
Se for preciso me perder para sentir

então que isto seja só o começo

foto arquivo da autora


DA ARTE DE SENTIR

algumas pessoas me acham estranha.

Não sou eu a estranheza. Ou sou

Mas é no encontro com o estranho
em que me renovo e renasço.