27 de out. de 2008

A DOR DAS COISAS.


foto/google

Silêncio não é para os que falam baixo. Mas para os que sabem berrar baixinho.

Minha dor berra. É dor de alma,funda, dor de não ver.

Dor que não qualifica. Interrompe o ciclo. Muda o curso do corpo e da rima.

Minha dor é ser paciente comigo. Ser uma metáfora viva do que se cria.

Toda dor é humana. Desumano é o homem que ela abriga.

Toda dor se sabe só.

Chora só e sem verbo. Só e sem nome.

Quando falo em dor, falo meu tudo. Minha casa. Minhas coisas.

Sem ela não sou. Mesmo que continue sendo. mesmo que seja pra sempre.

A vida é um instante.

24 de out. de 2008

Um presente? Não uma grata satisfação e recíproca admiração.

Olá, Adriana,

Como está?


Desculpe demorar tanto para mandar um e-mail sobre seu livro. Estou numa corrida bastante grande até o final desse ano, tenho deixado algumas coisas de lado, mas, mesmo assim, o tempo é curto.

Posso te dizer que foi uma surpresa imensamente boa perceber quantos ótimos poemas restam em teu livro sóbrio e disciplinado. Acho este - o caminho que você toma nos poemas - o caminho a se seguir: calma, silêncio, dor.

Um poema não nos responde coisa alguma; do contrário, cria-nos problemas, ensina-nos a sentir o que não sentimos mas que o poema sente em nós; ensina-nos a ouvir de novo, a andar de novo; a viver de novo. É claro. E é um risco.

Acho ótimo que esse livro destoe da maioria da produção contemporânea, mesmo dos que escrevem sobre teus poemas, te apresentando ou introduzindo aos leitores, dos teus amigos etc. As pessoas estão com os espíritos, os corpos, as cabeças - ou seja lá o que for - muito agitadas, muito preocupadas com um fazer-se gostar facilmente e tudo.

Enfim, não vou me alongar nem escrever detidamente sobre cada poema. Digo, somente, que o livro me causou um grande impacto e que ele é, de fato, muito forte. Apresentarei teus poemas a um poeta e amigo de São Paulo que com certeza gostará da tua produção.

Caso tenha poemas novos, mande-me uma seleta.

Beijos,

Ponce.





--
Thiago Ponce de Moraes

www.thiagoponce.blogspot.com

23 de out. de 2008

ATRÁS DO SOL AMARELO.



Cachoeiras são estrelas que esqueci de contar

ondas de espumas que não desenhei no papel

e que explodem sonoras antes que o sol

se apague e o dia amanheça tarde.

paralelas do mesmo traço, meu enlaço amarelo.

árvore que se enraíza nas limitações do que se é.

ontem senti que preciso ter compaixão por mim

um limite entre a alegria e sua vulnerabilidade.

ambos sentimentos da mesma dor.

vida são sonoridades e palavras.

ouvir mais do que dizer.

vida é dor que se carrega e se entrega.

A.M.B.

22 de out. de 2008

MAREANDO


foto/olhares.com

Muito me perdi no mar.
Mesmo o mar é mais previsível e contínuo do que eu.
Eu não.
Eu transbordo e navego.
Eu me transformo.
Viro enchente e transbordo de desejos pelo mar.
Eu me transformo em enchente de desejos pelo mar.
Eu me afogo e respiro desejos pelo mar.
Mas até o mar é mais previsível e contínuo do que eu.
Eu não.
Nunca represo.
Nunca usina.
Eu navego.
Só represo o que não for movimento.
O que não for movimento....

A.M.B.

17 de out. de 2008

TIRO AO ALVO.


artworks/images

Cai a janela
abre o pano
atiram flechas
sou o alvo.
Sou a flecha fincada no buraco negro do alvo
sou flecha fincada no peito
sou flecha fincada e mirada no buraco do peito.
Sou flecha. Sou alvo.
Atirem! Atirem, covardes!
Não irei reagir.
Perdi a coragem arqueada do suicídio.
que ele vá pra longe
que ele seja o alvo de outras flechas fincadas no meu corpo.
Sou flecha andarilha.
Sou flecha que atinge o ápice do alfabeto.
Sou linguagem pura e sem dialética
sou palavra tingida
sou arco de palavras, não de flechas.
Mas me disfarço em lingua afiada
e me retiro quando não há mais palavra...

13 de out. de 2008

MEU PÉ DIREITO.


imagem/google

As vozes que escuto são frias, como frio é o sangue que desliza pelos poros.
Há dias conto os dedos do pé entre devaneios de coca-cola e algum prazer.
Vivo a me quebrar,
Quebro as pernas, a cara, o coração...
Mas cara não se enfaixa,se expõe a cicatriz.
Mansa e calmamente definho na veia e nos veios dos descaminhos.
A monotonia dos dias chega de lento
como coisas que ainda planejo fazer.
E quando a noite me sobrevoa driblando tantas dores e outros gritos,
com ela vomito cicatrizes
e alguns cacos de vidro.

9 de out. de 2008

CAIXA DE PANDÔRA.

foto/arquivo da autotra

HOJE À NOITE QUERO TE DEVOLVER EXAUSTO,
EXAURIDO DE TANTO PRAZER...
VOU DEIXA-LO COM A CERTEZA DE NOITES BEM DORMIDAS.
E À TARDE QUANDO TE ENCONTRARES CASUALMENTE,
SEM RUMO...
TRÔPEGO DE SATISFAÇÃO,
VOU FINJIR QUE NAÕ TE CONHEÇO.
MAS O FALO,...AH O FALO.... ESSE QUERO MACHUCADO,
INCHADO DE CANSAÇO E SATISFAÇÃO.
HOJE À NOITE PROMETO TE DEVOLVER FELIZ.
BOM RETORNO AO LAR,
MEU AMOR!

7 de out. de 2008

APRENDENDO A MORRER.

tela/Salvaor Dali


Morrer não deve ser difícil.
Difícil é saber que não somos deuses.
Somos uma incompletude.
Talvez minhas lágrimas e palavras sejam lavadas
e diluídas com as coisas desse mundo.
Morrer não. Morrer não deve ser tão difícil.
Aprendo um pouco a cada dia.
Calo com o tempo,
e viro borboleta.
Difícil é o imponderável.
Morrer, não.
Morrer abrevia instantes.

6 de out. de 2008

É CHEGADA A HORA

foto/getty images

Já faz um tempo..., coloca uns quase 20 anos na conta, mas lembro como se fosse hoje das inúmeras reuniões que frequentava junto ao sindicato e aos grupos de teatro mais engajados, pleiteando e exigindo os direitos que julgávamos ser pertinentes ao ator/artista em espetáculos de diversão.

Pois é... hoje me pergunto aonde estão e como são os nossos direitos enquanto escritores que somos- e aqui não vai nenhum pré-julgamento de qualidade poética-, deixemos claro! Muito já se falou e discutiu em mesas de bares, churrascarias, cafés de livrarias mas, até agora....nada ou quase nada se fêz.

Por quê então precisamos aprender a roda se a roda já foi inventada? Por exemplo, quem é artista e contribui com o sindicato e associações tem vantagens como descontos, bilhetes gratuítos, e até mesmo direito a casa de repouso na velhice....quem é amigo de amigo então.... nem se fala. Agora uma coisa que nunca vi em lugar algum, seja na classe artística ou não, é o convidado, pagar pra se apresentar!

Mas isto ainda acontece no meio intelectual....logo no intelectual! É humilhante e escorchante! Fernanda Montenegro, Marília Pêra, não começaram como divas de teatros no Leblon ou no Shopping da Gávea, mas pra nós não sobra nem um mafuá na Lapa ou no Lido! Ah, faça-me o favor! Bém, pra mim chega, tenho absoluta convicção que juntos podemos mudar muita coisa e só não o fazemos por pura preguiça, desorganização, falta de iniciativa e babaquice! Tudo quase exposto, paro por aqui, vamos pensar, refletir sobre algo concreto. Até breve

3 de out. de 2008

Regresso


tela/Joan Miró
Para Bruno Cattoni


Há, na vida, algo que não se se decompõe com o tempo,
e transpõe a matéria.
Há, no amor, um acontecimento sublime que
ultapassa o encontro.
Há, no sonho, um fio de realidade que vai além de uma canção
e seu destino.
Há no homem, a idade plena da esperança,
o gozo supremo de amadurecer como frutos de uma
existência.
Haverá sempre o eterno juízo, o eterno retorno ao espírito
e ao que ele significa.

2 de out. de 2008

PEQUENO ENSAIO SOBRE A VIDA.


tela/Joan Miró

São três horas da manhã e estou com insônia novamente....Me vem uma avalanche de pensamentos à cabeça, igualzinha a chuva que cai lá fora há dias. Estou na verdade lutando pela VIDA. À minha maneira, de todas as maneiras....Mas é luta! E prefriro nessas horas manter o silêncio imponderável! Preciso me preencher de silêncios...Não quero falar. Não tenho vontade de falar. A linguagem inúmeras vezes destrói o caminho.

O que me espanta é esse seu ar de espanto! Mas não pense que que é egoísmo meu. Não mesmo! É a minha maneira de não estar sózinha, se isto faz algum sentido...Eu sou uma daquelas pessoas que se curam com o próprio veneno. Sinto uma espécie de entorpecimento pela vida e só me liberto quando me rasgo.É doído, mas é assim..

Ao mesmo tempo me assalta o sentimento de desamparo. De substituir este isolamento , este cansaço, pelo bem maior que a vida me deu: a possibilidade de amar os meus incondicionalmente.Mas se fosse fácil eu saberia a receita. Neste exato momento em que todas as lutas parecem vencidas, quando a vida parece ser um beijo, um abraço, eis que me assalta esta sentimento de não pertencimento, de desprendimento, de desnecessidade. Essa desnecessidade para com a vida.

Mas a vida não éuma desnecessidade. Pelo menos a minha não é, na maior parte do tempo. Tenho muitas responsabilidades inerentes, apesar de preferir a solidão. A solidão sim , é necessária, é indispensável! Ela grita ao menor sopro de vida. Por quê vida é palavra. E a minha parece ser escoar!